É cada vez mais comum falar sobre assédio moral na atualidade como um novo mal que assola o mundo do trabalho. Porém esta prática é antiga e dar nome ao que antes já existia é fruto de uma resistência e mudança de postura dos trabalhadores inseridos no mundo globalizado, menos humanizado. Não só por parte destes, mas também da própria iniciativa privada que vem lidando com processos e perdas de causas trabalhistas nas quais o trabalhador vítima de demissões por “justa causa” resolve juntar provas para denunciar os desmandos do patrão.
Há duas características básicas do assédio moral: a humilhação e a repetição do ato. Essas situações se agravam gerando consequências até irreversíveis para as pessoas são demonstradas de forma sutil por parte de um superior sob o empregado sempre com intencionalidade e muitas vezes pessoalidade. Neste segundo caso, as relações de trabalho são permeadas de trocas em função de uma amizade ou bajulação com alguém que possa trazer algum ganho futuro, contradizendo e muito a própria constituição brasileira ou mesmo a lei 8112/90 que rege o serviço público no tocante aos princípios, sendo um deles, a impessoalidade, referindo-se ao interesse coletivo como objetivo da administração pública não podendo estar submetido a interesses individuais ou favoritismos.
Como acontece o assédio moral no interior das escolas? As vítimas escolhidas normalmente são aquelas que podem trazer alguma “ameaça” aos diretores ou coordenadores através de sua postura questionadora, ou mesmo sendo tão competente e bem qualificado que possa ser um futuro candidato ao cargo ora “ameaçado”. Nesse sentido, os atestados médicos são frequentemente frutos de insinuações de falta, os questionamentos são tidos como de pessoa briguenta e difícil de lidar, são cobrados planejamentos, projetos e outras atividades as quais o mesmo não consegue dar conta devido sua sobrecarga de trabalhos em vários turnos, até reforçar reclamação de pais contra os mesmos, transferi-lo de escola, reclamar quando o mesmo não “ajuda” realizando tarefas que não competem a ele como limpar salas de aula e etc . Os demais professores ficam receosos de serem identificados com o mesmo reforçando o comportamento isolador promovido pela ideia da competitividade.
Esse processo todo é somatizado nas doenças psíquicas as quais o trabalhador da educação está exposto como depressão,*síndrome de bournot . O mesmo passa a tomar medicações por criar verdadeira aversão ao local de trabalho, sentindo-se inferiorizado, revoltado, humilhado e etc.
O próprio absenteísmo (falta não justificada) pode ser consequência do assédio moral. Tanto que em empresas privadas com gestão “humanizada”, como chamam os empresários, há recomendações de ordem preventiva a observar ausência injustificada do número de funcionários, claro que a preocupação não é com o trabalhador, mas com um possível processo de assédio impetrado contra a empresa. Isso porque o artigo 136-A do novo Código Penal Brasileiro institui que assédio moral no trabalho é crime, com base no decreto - lei n° 4.742, de 2001.
Percebemos no fim das contas que muitos de nós trabalhadores da educação somos assediados moralmente tanto no interior das escolas como pelos próprios gestores públicos ao reforçarem nossa desvalorização através das péssimas condições de trabalho e baixos salários, mas o que fazer? Primeiramente agir no coletivo, nunca buscar o isolamento. Presenciando situações de assédio, o caminho é ser solidário ao colega de trabalho. Uma das maiores armas de quem assedia é justamente a ideia de individualismo e competitividade que disseminam entre nós educadores. Buscar ajuda nos órgãos de classe através de sua assistência jurídica que é paga pelo trabalhador é outra saída. Sindicalize-se! O sindicato não é o grupo que o dirige. Mesmo não tendo acordo político com a direção da entidade, o órgão de classe existe como ferramenta da classe trabalhadora. Enfim, solidarizar-se organizando-se enquanto classe é a nossa maior arma de defesa!
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